quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Naquela esquina.

Sinto-me perdida e ao olhar para trás, o observo amarrando o seu tênis, um all star azul. Percebo que me olha intensamente, está enérgico, acho que aconteceu alguma coisa. Eu não consigo parar de olhar: olhos cor de mel, cabelo grisalho, tatuado, lá pros seus quarenta anos.
Ele também não para de olhar, está muito ofegante. Qualquer movimento que faço, segue com os olhos.
Não posso mais ficar olhando, vai achar que fiquei interessada – e fiquei.
Viro a esquina vagarosamente e ele percebe que estou indo embora. Levanta-se rapidamente e seu cadarço desamarrado não importa mais, quer saber pra onde vou.
Olho para trás e logo, um sorriso em seu rosto seguido de um brilho em meu olhar. Parece que consigo ouvir o palpitar do seu coração, um “Tum tum” atrás do outro e cada vez mais rápido. É só impressão minha, na verdade, é o meu coração. Não sei o que faço. Sou tímida. Sigo a diante, agora com os passos mais largos – será que vai me seguir?
Sim. Segue-me até a porta de minha casa, e em todo o trajeto, juro que fiquei com o bico calado.
Levo um susto! Puxa um dos meus braços e logo me rouba um beijo, já não sinto mais nem o “Tum tum” do meu coração, parece que também o rouba de mim.
Lábios macios. Sua boca se encaixa perfeitamente na minha, perfume suave. Eu suo frio pelas mãos. Estou nervosa, nunca fiquei assim antes. Um beijo longo e doce.
Ele pára. Eu mal ouço sua voz. Posiciona-me ao lado de uma árvore e tira de seu bolso um celular modesto e sem mencionar nada, tira uma foto. Não deu tempo nem de abrir minha boca – também se eu a abrisse tenho quase certeza de que não sairia voz alguma. Ele sai correndo e entra no primeiro ônibus que passa em minha rua. Eu entro em casa, preparo um café. Enquanto a água ferve me deito aos pés do sofá, minha respiração volta ao normal e volto a sentir o “Tum tum” do meu coração. – Eu sabia que tinha algo de errado com ele. Por que fugiu de mim?
Ao menos levou para ele uma foto minha que no brilho do meu olhar não conseguira esconder a felicidade de ter um beijo roubado daquela boca tão doce.
Não quero que acabe assim. Penso como encontrá-lo novamente. Passam-se uns cinco dias e eu persisto em passar naquela bendita esquina. Desisto e volto para casa. Ahh! Não acredito! Fico vermelha, rosa, roxa, amarela, viro um arco-íris de cores e ele está lá, sentado em minha porta com um violão em seu colo e um buquê de rosas no chão. Ele canta uma canção: “Wild thing, you make my heart sing. You make everything, groovy. Wild thing I think you move me, but I want a know for sure. Come on and sock it to me one more time. You move me”.
Eu o convido para entrar, em minhas mãos ele entrega o lindo buquê de rosas. Antes que a água do café comece a ferver, um beijo lhe roubo, seguido de outro beijo e outro e mais outro. Estamos deitados aos pés de minha cama, a água borbulha até cair da panela e faz uma bagunça no fogão. Eu não ligo, estou o amando. Ai, e ele está me mordendo, ninguém me atrapalhe. Cada “Tum tum” de nossos corações parece que vai fazer nossos peitos estourarem. Não quero saber mais de nada. Ele é diferente. Ele agora é minha “Wild thing”.

Um comentário:

  1. Você escreve muito bem. Conheço um montão de redatores que não conseguem escrever um texto deste tamanho. E muito menos tão legal.

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